O ciclo do carbono é um ciclo biogeoquímico no qual o elemento alimenta os organismos vivos do meio ambiente, retornando em seguida à atmosfera. Portanto, carbono bom é aquele que se transforma em elemento orgânico integrado à terra. E carbono ruim é aquele que não é resgatado da natureza, ficando livre no ar e contribuindo para o aquecimento do planeta. Uma pesquisa da Embrapa Arroz e Feijão concluiu que o sistema integrado lavoura-pecuária apresenta taxa de acúmulo de carbono no solo três vezes maior do que na sucessão de culturas de grãos. Os arranjos com sistema integrado lavoura-pecuária apresentaram taxas de acúmulo de carbono de 0,6 te 0,9 t por hectare. O resultado representa um aumento de três vezes nos estoques de carbono do solo em comparação com sistemas de sucessão soja-milho de alto desempenho. Com o +Pecuária Brasil, por exemplo, ao se somar a biotecnologia reprodutiva com uma integração lavoura-pecuária, temos um ambiente perfeito de sequestro do carbono e contribuição para a sustentabilidade da cadeia produtiva da bovinocultura
O carbono é um elemento que está presente na composição de todas as moléculas orgânicas, essenciais para os seres vivos, além de alguns compostos inorgânicos. Na atmosfera, o carbono está presente na forma de dióxido de carbono (CO2). A assimilação do carbono pelos seres vivos e sua devolução à atmosfera, completando, assim, o seu ciclo, estão intimamente ligadas ao fluxo de energia. Os resultados dos experimentos mostraram que os maiores valores de acúmulo de carbono foram encontrados em sistemas ILP sob condições de plantio direto. Soja de plantio direto na foto acima. Os arranjos com sistema integrado lavoura-pecuária apresentaram taxas de acúmulo de carbono de 0,6 te 0,9 t por hectare.
Propriedade agrofamiliar em Barra Alta-DF tem integração lavoura-pecuária muito bem-sucedida com o plantio de cupiaçu, que depois da silagem serve de alimento para todo o rebanho, e que faz parte do programa +Pecuária Brasil (biotecnologia sustentável), criando um ambiente perfeito de sequestro de carbono
Um estudo da Embrapa Arroz e Feijão estimou a taxa de acúmulo de carbono orgânico do solo (COS) em um solo de Cerrado no estado de Goiás, Brasil, comparando o sistema de integração lavoura-pecuária (SIP) com o sistema de sucessão de grãos (soja-milho) em ambos plantio direto e agricultura convencional. Os resultados mostram um aumento nos estoques de carbono orgânico do solo em ILPI ao longo de 20 anos, projetados para o período de 2019 a 2039. O resultado representa um aumento de três vezes nos estoques de carbono do solo em comparação com sistemas de sucessão soja-milho de alto desempenho. As taxas registradas estão acima do recomendado pela Iniciativa Internacional “4 por 1000”, organização que reúne esforços de instituições de pesquisa e educação em solos para segurança alimentar e clima em todo o mundo. Os achados podem ser parcialmente explicados pela presença do capim braquiária, uma planta forrageira que cria raízes profundamente no solo.
A projeção do acúmulo de carbono foi estipulada para a profundidade do perfil do solo de 30 cm. O resultado foi que os maiores valores de acúmulo de carbono foram encontrados em sistemas ILP sob condições de plantio direto; dois dos quais (ICLS1 e ICLS2, conforme mostrado abaixo) apresentaram aumento de SOC a taxas entre 0,6 e 0,9 toneladas métricas por hectare por ano, respectivamente. Isso representa um aumento de três vezes nos estoques de carbono do solo em comparação com os maiores desempenhos dos sistemas de sucessão de culturas de soja-milho, que atingiram taxas de acúmulo de carbono de 0,11 e 0,21 toneladas por hectare por ano no plantio direto.
A simulação
O estudo foi baseado na série histórica de dados de semeadura e manejo em área de ILPI na Fazenda Capivara, fazenda pertencente à Embrapa, localizada no município de Santo Antônio de Goiás, Goiás, Brasil. As informações registradas no banco de dados de manejo desde 1990 forneceram um modelo conhecido como CQESTR, que simula o comportamento do carbono em solos de cultivo e é usado para prever como diferentes práticas de manejo afetam a dinâmica do carbono.
Durante o estudo, dois ICLS foram simulados dentro do CQESTR e replicados ao longo do período de avaliação. O primeiro (ICLS1) incluiu cultivo de milho na safra de verão seguido de 4,5 anos de pastagem de braquiária. A segunda (ICLS2) teve soja como safra de verão, seguida de pousio no primeiro ano, depois arroz de terras altas, novo pousio (descanso do solo) no segundo ano, cultura de milho e, eventualmente, 3,5 anos de pastagem de braquiária. Já o sistema de sucessão de culturas (soja-milho) compreendeu a alternância de culturas anuais de verão, bem como períodos de pousio, ou sucessão entre as duas culturas (safra e safrinha).
Os resultados do experimento mostraram que os maiores valores de acúmulo de carbono foram encontrados em sistemas ILP sob condições de plantio direto. Soja de plantio direto na foto acima.
Beata Madari é uma das pesquisadoras da Embrapa responsáveis pelo estudo. Ela disse que esse resultado está em linha com os anteriores no campo e pode ser explicado pela presença da forrageira Brachiaria , que apresenta raízes profundas no solo e assim não só recicla nutrientes como também ajuda a aumentar o estoque de carbono no sistema devido ao contribuição da biomassa aérea e radicular em ILPI. Segundo Madari, uma taxa de acúmulo de carbono de 0,9 tonelada por hectare por ano surpreendeu os pesquisadores, pois é um valor alto levando em consideração o diagnóstico inicial da fazenda da Embrapa: solo argiloso (mais de 50% de argila) e baixo a teor médio de carbono (aproximadamente 2%).
Rede internacional
O resultado alcançado pelo estudo científico pode ser comparado a outros estudos sobre estoques de carbono no solo. Uma das principais organizações do mundo relacionadas ao tema é a Iniciativa Internacional “ 4 per 1000 : Soils for Food Security and Climate”. A iniciativa conta com uma rede internacional de colaboradores, que inclui instituições de pesquisa e ensino, associações de agricultores, governos, organizações internacionais, além de setores agroindustriais e empresariais. Ele defende práticas sustentáveis de manejo do solo para atingir uma taxa de crescimento anual de 0,4% (4% ou 4 por 1.000) nos estoques mundiais de carbono no solo. Para as condições da área experimental no bioma Cerrado brasileiro, isso significa 0,26 toneladas por hectare por ano. No entanto, esta taxa pode variar, dependendo do clima local e das condições do solo.
Para a pesquisadora Beata Madari os resultados da pesquisa foram superiores, o que mostra que o manejo sustentável do solo e das lavouras no bioma Cerrado pode desempenhar um papel importante na mitigação de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO 2). A Iniciativa Internacional “4 por 1000” foi lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21) de 2015 em Paris, França. A Embrapa é uma das integrantes dessa iniciativa, e a pesquisadora Beata Madari integra o comitê técnico-científico.
Os resultados da pesquisa mostram que o manejo sustentável do solo e das lavouras no bioma Cerrado pode desempenhar um papel importante na mitigação de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO 2).
Mercado de carbono
A taxa anual de acúmulo de carbono encontrada neste estudo para o ILPS em plantio direto traz novos elementos para o debate científico. Segundo o pesquisador da Embrapa Pedro Machado, há outros estudos que constataram maiores capturas de carbono em ILPI: taxas anuais de até 1 tonelada por hectare por ano. No entanto, Machado diz que geralmente são estudos de pequena escala, em parcelas, com duração de poucos anos ou safras. Nesse sentido, ele considera o uso do modelo CQESTR um diferencial. “A ferramenta de simulação foi fundamental porque nos permitiu usar de forma efetiva o banco de dados de quase 30 anos de cultivos da fazenda da Embrapa e prever, por um período, a dinâmica de acúmulo de carbono de acordo com o preparo do solo e o manejo agrícola. Por isso,
Machado acrescenta que o CQESTR é um programa utilizado para investigações científicas tanto no Brasil quanto em outros países, mas, para situações brasileiras, havia sido utilizado apenas em algumas regiões tropicais do Nordeste e Sudeste, e agora foi testado e aprovado para as condições do Cerrado .
O pesquisador mencionou ainda que o estudo não só abre portas para quantificar com precisão o carbono armazenado no solo em um sistema agrícola específico, como também permite projetar futuramente quanto carbono será armazenado no solo. Esse estudo, por exemplo, estipulou a projeção para o período de 2019 a 2039. Essa perspectiva, segundo Machado, faz com que a pesquisa se torne um ponto de apoio e qualificação para o debate em curso no Brasil sobre a regulamentação de um mercado de carbono, e estabelece estratégias para a sustentabilidade agrícola e para o desenvolvimento de políticas públicas nacionais.
O estudo faz parte da tese de doutorado de Janaína de Moura Oliveira. Foi realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG) e tem como título: Carbono no solo em sistemas integrados de produção agropecuária no Cerrado e na transição Cerrado-Amazônia. O estudo contou com a colaboração da Embrapa Labex USA e da University of Arkansas ( UARK ). A tese pode ser baixada aqui.
Melhor saúde do solo
O estudo mostrou que tanto no sistema ILP quanto no sistema de sucessão de culturas, o estoque de carbono no solo foi maior na produção de plantio direto do que nos sistemas de preparo convencional (aração e gradagem). A pesquisadora da Embrapa Márcia de Melo Carvalho, que participou do estudo, observou que práticas conservacionistas, como o plantio direto, contribuem para o acúmulo de carbono em relação aos sistemas convencionais, pois o não preparo do solo favorece maior estruturação, com formação de agregados ( pequenos torrões de terra) que “empacotam” a matéria orgânica ( ver estudo específico aqui ), protegendo-a da rápida decomposição. Quanto mais matéria orgânica, mais saturado de carbono está o solo.
Tanto no sistema ILP, quanto no sistema de sucessão de culturas, o estoque de carbono no solo foi maior na produção de plantio direto do que nos sistemas de preparo convencional (aração e gradagem)
No entanto, algo tão importante quanto a saturação de carbono do solo é a proteção proporcionada pelo plantio direto. Os sistemas de plantio direto permitem a formação de uma camada que protege o solo (mulch) do impacto das gotas de chuva, proporcionando a infiltração da água e a regulação da temperatura do solo. Além disso, o cientista afirma que as práticas de manejo que resultam no acúmulo de carbono no solo também melhoram a qualidade e o rendimento dos sistemas de produção, adaptando-se às mudanças ambientais, que são uma realidade no Cerrado goiano.
Com informações da Embrapa.